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Tomei uma rasteira do candidato a Prefeito

  • Logã, sempre.
  • 16 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Faz tempo que eu tenho tentado movimentos para reunir ou pelo menos promover o trabalho de artistas independentes. É claro que tudo fica um pouco mais difícil quando se é um artista pequeno, como eu. Mas em 2015 resolvi tirar um projeto do papel.

Liguei para um parceiro de trabalho, Fernando Costa, que na época fazia a distribuição das minhas músicas para as plataformas digitais. A ideia era fazer um festival de música que estivesse associado à lançamentos nas plataformas, coletâneas, playlists e etc. ‘A ideia é depois fazer um programa para tv mas, por agora, acho que o lance é fazer o festival’, disse eu. Fernando se mostrou animado mas achou por bem comentar do primo cineasta que estava morando no Rio, André da Costa Pinto.

Semanas depois, em um apartamento miúdo em Botafogo/RJ, eu, Fernando e André nos dividimos entre o sofá e uns banquinhos em uma sala que ainda apresentava uns 4 ou 5 jovens atores e atrizes ‘sem casa’ sentados no chão. [ Tempos depois fui entender a história dos jovens. André realizou um curso-oficina no Rio. Alguns estudantes de artes cênicas do Norte/Nordeste que pretendiam vir ao Rio fazer o tal curso, se conheceram pela internet e planejaram alugar uma casinha juntos e dividir as despesas. Chegaram ao Rio e a casa não existia. Levaram o golpe do falso imóvel. André abrigou a todos por um longo período. ] Contei a história toda, de onde veio a ideia, então André disse: ‘Esquece o festival por enquanto. Vamos filmar.’ Nasce aí o programa piloto ‘Baú do Inédito’.

Mas, nem tudo são flores… Até onde deu certo: André e eu fizemos de tudo que foi possível para a filmagem acontecer. Mobilizei os artistas, pedi indicações, fiz todas as contas. André montou uma parte da equipe e eu montei a outra, todo mundo no amor. André e eu discutimos o meu roteiro e marcamos a filmagem. Um dia inteiro de gravação, uma cantora, uma big band e um grupo de cultura popular.

Depois disso, a missão é editar. Descobri que o meu parceiro de projeto que tinha se intitulado ‘editor’ não sabia editar tanto quanto se imaginava. Move daqui, mexe dali, arrumamos outro editor. Agora tem que editar o som. Meu pai do céu… Esbarramos naquele clássico perfil do sujeito que fala ‘gratidão’ para tudo, voz baixa, mas tá pouco se f#dendo para o compromisso que tem com os outros. Esse ilustríssimo senhor fez nossa programação atrasar em quase um ano.

Um ano depois, após ter pago o mesmo que eu paguei para produzir toda a filmagem para um editor de som, o programa estava pronto. Ainda restaram um ou outro problema, sabe como é… produção de baixo orçamento e eu ainda super verde no mercado audiovisual, mas estava lá, uma boa ideia, roteiro legal, conceito. Agora vamos, enfim, tentar vender o projeto.

André fez o contatos dele, e-mails, mensagens, telefonemas. Passa mais um tempo, nada. Mais e-mails, mensagens, telefonemas… nada. Até que, enfim, recebemos o convite esperado. Um produtor, conhecido de André, toma a iniciativa e, rememorando o contato que havia recebido, telefonou nos convidando para uma reunião. Expectativa. Marcamos dia e horário, atravessamos os túneis do Rio e fomos até a casa do tal produtor-diretor-publicitário que poderia tornar nosso programa piloto em realidade.

Manhã de sol no Hell de Janeiro. Não lembro se a temperatura era agradável, mas lembro que eu estava suando o necessário. Com 20 minutos de atraso o ‘dono’ da reunião chega já se desculpando e dizendo ‘puuxxxa, foi mal rapaziadã, me atrasei e só tenho 10 minutox para falar com vocêx’. O sinal de alerta acendeu na minha testa. Como é que eu vou apresentar um programa de 22 minutos em menos de 10.

Bem, mostrei meu pesar em não poder apresentar o piloto e falamos sobre um novo encontro em breve. Apertamos as mãos e ouvimos as ‘mais sinceras desculpas’ do anfitrião. ‘Foi mal mexmo, é que recebi uma ligação ontem a noite, um amigão me pedindo ajuda, ele precisa subir nas pesquisas e pediu socorro’. [ Ah, ainda não contei isso. Estávamos em 2016, há poucas semanas do 1º turno da eleição para prefeito no Rio de Janeiro. ] Neste instante me atravessa a sala o candidato [ não vou dizer o nome, mas tem nome de índio e dá as costas para qualquer tipo de moralidade para ser secretário de urbanismo de prefeito evangélico ]

Por dentro eu fiquei fulo! Não disse nada, mas pensei ‘esse cara não vai nem chegar no 2º turno mas já conseguiu interferir na vida de dois moradores da cidade [não tão] maravilhosa.’ Nossas tentativas por outras oportunidades nunca chegaram tão perto quanto estar na sala de um produtor e o programa não foi para frente.

Mas, vendo o lado bom disso tudo. Trabalhei com um dos mais talentosos diretores de nossa contemporaneidade; produzi praticamente sozinho meu primeiro produto audiovisual; e tive minha primeira experiência como entrevistador/ apresentador. Ah, na série ‘há males que que vem para mostrar os reaças’ descobri que o ‘diretor de fotografia olavista’ que eu levei projeto (e que na verdade não era diretor de fotografia coisa nenhuma - André sacou isso no dia da filmagem), e o ‘editor que não sabia editar’ votaram no fascismo em 2018. Há de se convir que se com fascista não dá para fazer concessões, quanto mais conviver, ser sócio.

André da Costa Pinto é cineasta nascido em Barra de São Miguel, na Paraíba, escreveu e dirigiu o longa-metragem baseado em fatos ‘Tudo Que Deus Criou’ e o documentário ‘Madame’ sobre Camille Cabral, nascida em Pernambuco e a primeira mulher transgênero a ser eleita vereadora na República Francesa. André e eu conversamos sobre os caminhos do cinema e cultura pós pandemia.

Link: https://youtu.be/Gk0XHW_QFLM

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André da Costa Pinto @andredacostapinto

[Entrevista realizada em 16 de Abril de 2020]


 
 
 

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