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Raquel, Maria, verão e eurotrip

  • Logã, sempre.
  • 5 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

O ano era 2009. Meu casamento foi paras as cucuias. Minha vida preparava aquela cambalhota básica que só os filhos do vento sabem o que significa. Minhas idas à garrafa de café do escritório começavam a ser mais frequentes [ os antecedentes criminais da minha gastrite e consequente hérnia de hiato ]. Entre março e maio de 2009, os meses que se antecederam à minha demissão dessa respeitável empresa, o café foi o principal motivo para os esbarrões entre eu e Raca no meio da tarde.

Raquel Macedo, técnica de TI - responsável por lidar com a nossa total incapacidade em usar mouse, teclado, tela e respirar ao mesmo tempo - começa a ‘brindar’ os copinhos de café comigo em papos cada vez mais duradouros. Já adianto que, apesar de muitos boatos, nunca rolou nada entre nós [ mas há quem tenha certeza que sim ].

Começamos a combinar uns forrós e vez em quando eu tropeçava no samba da galera do Boi Tolo na Praça XV para encontrá-la. Um dia botei uma pilha forte [ depois de muitas outras tentativas anteriores ] para que ela fosse encontrar comigo na casa de um amigo. Marcelo Damm reunira em seu pequeninho e charmoso apartamento alguns amigos Tabladianos [ e uns penetras ] para uns goles. Convencida por mim de que ela não ficaria deslocada [ nem tinha espaço para alguém ficar deslocado lá ] ela topou e apareceu na alegre reunião. Dentre os presentes estava o meu amigo Gualter, cidadão ao qual Raquel já conhecia de outros carnavais, literalmente. Pronto. Tudo em casa.

Depois daquela noite, eu juntava os meus amigos e Raquel juntava as amigas dela e saímos em formato máfia pelas festinhas do Rio de Janeiro. Forrós, sambas, festas de música brasileira e botecos. Minha gastrite agradece pela lembrança.

O segundo semestre de 2009 estava longe de anunciar o fim e o verão já era a estação a ser vivida. Um calor de arrancar... deixa pra lá. O verão 2009/2010 foi um dos mais quentes da história e ficou famoso por levar as pessoas às praias durante a noite até altas horas todos os dias e, claro, nossa patota também compareceu.

Certamente foi o melhor verão da minha vida. Eu estava no teatro, mergulhado na possibilidade de melhorar minha habilidades artísticas, já havia gravado a minha 1a música [ O Samba é Bom ], as dores de cabeça pós separação começavam a se amainar… Claro, ainda havia muita piração, escritório novo, novos ‘colegas’ de trabalho, adaptações. Mas eu saia de lá e ia encontrar meus amigos, grupos diferentes que eu negligenciei por diversos motivos. E ia encontrar a Raca também.

Meu verão foi tão maravilhoso que anunciou seu fim em grande estilo: no sábado de carnaval eu conheci a Maria, a 'ser humana' que mais amei até hoje. Encontrei com a Raquel e disse ‘eu vou namorar a Maria’. Descrente ou, no mínimo, confusa com a minha afirmação, Raca questionou ‘Como é que você sabe? Vocês só se viram um dia até agora.’ Bem…

Eu tinha uma certeza inexplicável mesmo. E nós namoramos sim. Maria presenciou um dos períodos mais férteis do meu processo criativo. Pelo menos metade das poesias que estão no ‘Feliz Ainda’ foram escritas para ela ou inspiradas nela. Ela me viu [ e ouviu ] escrever a minha primeira peça de teatro e me ofertou sua atenção e opiniões todas as vezes que eu reescrevi o maldito texto [ maldito mesmo, explico depois em outro texto ].

Maria também segurou a barra, tanto quanto eu, de me ver viajar por 30 dias e passar meu aniversário de 30 anos com a Raca na nossa Eurotrip. Deus… que saudade eu senti. Antes de viajar mesmo. Lembro que eu entrava na copa do escritório 'novo' para beber café ou água e dizia para Dona Cristina [ copeira, baiana e arretada ] ‘ai que saudade da minha pretinha’. Dona Cristina resmungava ‘coitada…’ e gargalhava depois.

Eu apaixonado pela Maria, e Raca já bem caidinha pelo Davide - um carcamano italiano que hoje carrega o título de ‘marido da Raquel, a brasileira’ - viajamos juntos e aproveitamos para queimar o filme um do outro. Explico: mesmo que quiséssemos ficar com alguém, por onde passávamos todos sempre nos viam como casal. Sorte do Davide e da Maria, porque dois latinos dando sopa na Europa não é de desperdiçar.

Bem, depois dessa viagem eu e Raquel demos um tempo. Viajar junto cansa a relação. E eu precisava compensar o tempo fora para mostrar para a Maria o quanto eu pensei nela em cada lugar que visitei.

Meu contrato com a Maria se encerrou, teoricamente, no segundo semestre de 2011, na minha primeira grande crise de ansiedade que, na época, eu não sabia que o nome era esse. Com a Raca as atividades se mantém na medida do possível, já que ela hoje mora na Itália, casou com o Davide, teve cria e é mestre de Yoga em Diano Marina.

Era para ser um texto pra falar da Raquel e acabou virando uma declaração de amor à Maria. Tudo bem. Raquel me ouviu muito durante esses anos, ela vai entender, até porque, futuramente, ela será coadjuvante em mais dois textos: um onde eu conto meu teto-preto e nosso passeio de ambulância na Holanda e outro contando a primeira refeição entre amigos [ um delicioso frango à francesa ] que resultaria na fundação da Feijoada do Tião, mas fica para outro dia.

Raquel Macedo - mestre de yoga, brasileira vivendo na Itália próxima à cidades que tiveram altos índices de contaminação durante a pandemia. Raquel é minha amiga há mais de 10 anos, ex profissional de informática, amante de culinária, abordamos temas ligados ao isolamento, senso de coletividade e, claro, yoga.

[Entrevista realizada em 19 de Abril de 2020]

Raquel Macedo

@dianoyoga

https://youtu.be/jP44gmUybDI


 
 
 

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