Assédio: Os Homens Precisam Mudar
- Logã Pedro
- 20 de dez. de 2020
- 2 min de leitura
O tempos estão mudando, e isso é bom. Somos uma sociedade forjada no machismo e aprendemos durante séculos a normalizar isso. 'É homem' 'Homem é assim' 'Ele fez a parte dele, ele é homem'.
Tenho conhecidas que foram assediadas em saídas de banheiro por colegas de trabalho e, meses depois, começaram a namorar esses caras. O fato de o assédio ter ficado mais 'suave' após a dura que o marmanjo tomou no dia em que alegou estar bêbado e pedir desculpas se arrefeceu e a moça cedeu às investidas.
Outra amiga uma vez se referiu a um ex colega nosso de trabalho como 'um cara legal'... Na hora eu lembrei que não era bem assim porque, além de suas posições políticas - que pra mim falam muito sobre seu caráter - ele sempre cumprimentava as colegas de escritório com a pélvis ligeiramente inclinada para a frente e as mãos incorrigivelmente nas suas cinturas.
Uma longínqua ex-namorada, advogada, inúmeras vezes relatou que um sócio do escritório que ela trabalhava se referia a ela e sua estagiária com ares constrangedores sempre que as duas discordavam de algum ponto em um processo 'hum... a loira e morena brigando'.
Segundo relatos, em uma das vezes que Marcius Melhem assediou Dani Calabresa ele chegou a colocar o pau pra fora. Bizarro, né? Sim. Mas o assédio não é só a violência, ou o constrangimento. Esse excesso de carinho malicioso faz parte dessa construção do 'homem predador', sempre conquistador. Falo com conhecimento de causa, infelizmente.
Mas pode ficar pior: A produção pornô vem ensinando uma legião de homens - cada vez mais cedo, a partir dos 9 anos - a como ser violento e ver o sexo como um ato de punição às mulheres. Nos 'filmes' as mulheres são constantemente enforcadas e passam inúmeras cenas recebendo tapas na cara. E sim, o sexo pode ser muitas vezes violento, as formas de sentir prazer são individuais e cada um com as suas. Mas a violência está formando os homens - sempre formou - seja na relação cotidiana seja no sexo e nas relações afetivas. Homens estão sendo treinados para amar odiar mulheres.
E quando esses conceitos de sexo violento e punitivo se encontram com o que eu chamo de 'falso erotismo'... Hum... A música pop vende sexo. O instagram vende sexo. O entretenimento vende sexo. E a mulher horas é só objeto e, quando inverte o papel, reproduz o pior tipo de masculinidade. Também predadora, muitas vezes ultrassexualizada.
Não adianta apenas os homens receberem dedos apontados às faces quando cometem suas escrotices e a sociedade inteira e suas estruturas continuarem sempre moldadas para formar homens violentos e ultrassexualizados desde a infância. Não adianta o Marcius Melhem e o deputado Fernando Cury serem linchados na internet e as músicas que tocam no programa de auditório e no rádio reproduzirem o tempo todo relações de posse e violência disfarçada de duplo sentido, 'humor' e falso erotismo.
Os homens precisam mudar. Os meninos precisam aprender desde a infância a real significância do respeito.
Este texto não tem fim.
Fim.
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